segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Meditações de um Sujeito

Com olhos míopes observo esse mar de poeiras, destroços de papel higiénico e cotonetes embebidos em cera de ouvido que se tornou o chão da casa de banho. Sentado na sanita, medito sobre coisas que afligem a minha fugaz existência, vazia de propósito. Omnisciente de tudo num raio de três metros e tal, questiono-me sobre quais serão as diferenças entre inteligência e sabedoria. Lao Tzu, esse grande chinoca, certa vez disse que conhecer os outros é inteligência, mas conhecer a ti próprio é sabedoria. Tenho as minhas dúvidas quanto a isto.

Sempre me pareceu que, para te conheceres a ti próprio, tens de convencer-te de que és uma pessoa a quem te apetece conhecer. Se fores daqueles sujeitos que tiram macacos do nariz no trânsito ou riem alto após flatular, se calhar adiavas isso de te quereres conhecer e fazias antes amizade com outras pessoas. Sê inteligente e conhece outros. Sê sábio e reconhece que tu como ser humano não és nada de especial, mas como batráquio até nem és mau.

Mas voltando à inteligência e sabedoria, penso chegar a uma conclusão. Concluo que inteligência demonstra o homem que toma banho, por saber que não o fazendo importuna as pessoas que por aí andam a querer respirar ar puro e órfão de odor a virilha; que sabedoria tem aquele que, ao tomar banho, reconhece que é melhor limpar primeiro a cara com a toalha e só depois a picha - e nunca o contrário.

Penso nesse amaldiçoado utensílio, o piaçaba, e em como podem haver pessoas que reneguem a sua existência, abandonando a outros seres humanos a tarefa de limpar o cocó que deixaram, agora duro, secar na sanita. Sobre o perigo de salpicos, ainda por cima. Questiono-me se a polícia do karma terá motivo para ignorar esta situação.

Penso se serei a única pessoa neste universo que acumula em inóspitas gavetas destroços de pilhas alcalinas e carregadores de telemóvel de 1996, bem como uma edição da Dica da Semana com uma entrevista ao Paulo de Carvalho.

Penso em tudo isto e, pasmem-se os leitores, não ando para aí a transportar haxixe no estômago, não. A ganza que me resta, transporto-a no cérebro - e isso, parecendo que não, é melhor que nada.

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