Há coisa de quatro anos atrás podia ter encontrado Deus, mas não. Encontrei deus. E chegou. Há pessoas que vêem santas em sandes mistas, tostas e torradas; vêem Jesus em sombras, paisagens e relevos de cocó na sanita; eu vi deus e ele era real.
Não era um criador de universos, provocador de dilúvios ou detentor de qualquer qualidade super-heróica. Era deus, com minúscula. Um gajo, como todos nós, mas admirável.
Falo-vos de Neno, ex-guarda-redes do Benfica e Vitória de Guimarães, e da celebração anual do seu nascimento, o Nenatal. Este é um assunto que me toca profundamente, pois numa altura da minha vida em que estive à beira de comer tremoços estragados, Neno apareceu-me numa visão e disse-me - ainda hoje me lembro - “Ópstópá!”
Oxalá tivesse sido assim, mas as coisas nunca são como nos contam nos livros. As histórias andam de boca em boca e quando damos conta já contêm demasiados elementos fantasiosos. Esta que hoje vos conto é contudo verdade. Neno nunca me impediu de comer tremoços estragados, embora tivesse bastante gosto que isso me tivesse acontecido, pois ter-me-ia evitado fazer um bonito cocó naquela tarde de Julho de 2007.
O que Neno fez por mim foi aparecer-me na página de um jornal inglês disfarçado de Michael Jackson de meia-idade. Foi este o sinal que mudou a minha vida e assim que Neno me disse “Nunca mais serás o mesmo”. E não fui.
A simpatia, humildade e lindos reluzentes caracóis de Neno estão ainda hoje comigo, mesmo estando eu geograficamente distante, e vivem em mim como a memória de uma coisa boa que se viveu e já não volta. Como Alberto Caeiro, sei a verdade e sou feliz.
"Sabes?" Só.
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