segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Consequências do meu pensamento filosófico #17



Quem não se lembra dos míticos piqueniques em família no pinhal? Aquelas temporadas, onde o sol e a natureza colidiam num espectro de tranquilidade; onde os sorrisos invadiam a cara dos familiares que amamos; onde o cheiro da comida da avó criava em nós um salivar acentuado. Guardarei sempre comigo os sentimentos de tristeza, saudade e nojo. Tristeza, porque o tempo já lá vai e nada poderei fazer para o trazer de volta; saudade, porque se passava um bom tempo junto das pessoas mais queridas; nojo, porque, a certa altura, aparecia sempre a súbita vontade de cagar.


         Nada tão estimulante, como estar a comer um bolinho de bacalhau caseiro e ser interrompido pelo intestino “o” grosso a roncar, qual Fiat Uno de 1989. A partir desse momento apenas temos que nos preocupar com uma coisa: que a nossa avó tenha trazido guardanapos extra. Não vale a pena negar o óbvio e tentar aguentá-lo para o resto do dia, porque sabemos que, assim, nunca mais nos vamos conseguir sentar direito. Temos mesmo que enfrentar a besta.

Após possuirmos os guardanapos, é altura de partirmos em direcção ao desconhecido. Uma última despedida com um abraço caloroso a cada familiar, porque à nossa frente, uma vastidão de pinheiros bravos nos espera. Desde o momento em que partimos, o nosso problema reside em tentar encontrar um sítio onde a vegetação faça o seu papel de camuflar as entranhas do nosso rabo, o mais possível. Resolvido o problema, é então, altura de rezarmos a Nossa Senhora do Bom Despacho, para que o acto fisiológico seja, digamos, ligeiro. Não é. É massivo. A resina dos pinheiros até fica intimidada. Parecemos caçadores atrás de bambis, onde a caçadeira foi substituída por uma bisnaga hormonal. Temos então que revelar o Bear Grylls que há em nós. Só que, enquanto ele pega em folhas e paus para fazer uma fogueira, nós pegamos para tapar uma caganeira. Temos maneiras de pensar muito idênticas.

Por mais que neguemos, a verdade é mesmo esta: a maior cagada das nossas vidas foi dada num piquenique de família, onde guardamos connosco a tristeza de não pudermos repetir. Volta para trás tempo, volta para trás!


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