Os  dias arrastam-se no meio desta fatídica existência policial. Às vezes  no banho, quando envolto em água e champô do Lidl aproveito para me  tocar, questiono-me também se realmente Deus existe e se sim, porque me  terá brindado com um pénis do tamanho de um Playmobil. Talvez faça tudo  parte de um grande plano universal. Questiono-me também se esse mesmo  Deus haverá criado outras criaturas inteligentes na galáxia e se sim,  terão elas órgãos sexuais maiores que o meu? Parece-me óbvia a  conclusão.
Acordei  pelas nove horas, já o sol se impunha no céu, caralhesco e sublime.  Este reino celestial povoado de pombos que regozijam ao defecar em cima  das pessoas é o retrato mais próximo da realidade da sociedade em que  vivemos: os que estão em cima cagam para os que estão em baixo; dos que  estão em baixo há depois os que fogem desses cagalhões e os que os  comem.
Revistei  o armário da cozinha por vestígios de comida. Encontrei apenas umas  batatas fritas de pacote já fora de prazo. Polvilhei-as de açúcar  amarelo e usei-as como cereais sobre o leite azedo que ainda me restava  no frigorífico. Nos tempos que correm, isto não está para estragar.
Chegámos  à manifestação já o venenoso pequeno-almoço me atacava com ferocidade  os intestinos fragilizados. Soltei várias bufas sem que nenhum dos meus  colegas reparasse. Pensei que afinal os nossos capacetes com visor  também tinham alguma utilidade. Reflecti sobre o facto do bastão com que  agrido pessoas ser pelo menos sete vezes mais comprido que a minha  pila, e que talvez essa frustração e sexualidade reprimida tenham algo a  ver com a minha agressividade. Falo por mim, isto para não falar do meu  colega Matias que gosta de uma “chuva dourada” ou do Rodrigues, que se  masturba para meias da raquete desde os treze anos de idade. Avançamos  sobre a população quieta entre muitas dúvidas mas com uma certeza:  espancar pessoas é mesmo o nosso único talento. Valha-nos isso.
Poesia.
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